Pular para o conteúdo principal

PROJETO DE PESQUISA - A INTRODUÇÃO

PROJETO DE PESQUISA - A INTRODUÇÃO

Aproveitando estudos para o trabalho em grupo da disciplina MI1, verifiquei que a aplicação deste tema é vital à qualquer dissertação. Logo, de acordo com Creswell (2010), segue o roteiro para elaboração de uma introdução, onde se discute a composição e a redação acadêmica.

INTRODUÇÃO

O processo inicia-se com a organização das ideias, começando com a elaboração de uma introdução para a proposta. Essa estrutura é baseada em cinco componentes principais encontrados em todas as introduções, independentemente do método de pesquisa, e consiste em descrever o problema que gera o estudo, rever a literatura sobre o problema, identificar deficiências na literatura sobre o problema, identificar o público e não a importância do problema para este público, e identificar o objetivo do estudo proposto. Como este método baseia-se em assinalar as deficiências da literatura passada, será denominado de deficiências de ciência social para a introdução.
De acordo com Wilkinson, 1991 p.96, citado por Creswell (2010), a introdução é a parte do trabalho que dá aos leitores informações prévias para a pesquisa relatada no trabalho. Seu objetivo é estabelecer uma estrutura para a pesquisa, de forma que os leitores possam entender como ela se relaciona às demais pesquisas.
Infelizmente muitos autores não identificam claramente o problema de pesquisa, deixando o leitor decidir por si mesmo a importância da questão que motiva um estudo. Além disso, o problema de pesquisa é sempre confundido com as questões de pesquisa – aquelas questões que o investigador gostaria de ver respondidas para entender ou explicar o problema.
A essa complexidade acrescenta-se a necessidade de que as introduções assumam o encargo de encorajar o leitor a ler mais e começar a perceber a importância do estudo. Essa faceta por si só dificulta a redação da introdução. A introdução precisa despertar no leitor interesse sobre o tópico, descrever o problema que gerou o estudo, posicionar o estudo dentro do contexto mais amplo da literatura acadêmica e atingir um publico especifico. Tudo isso é atingido em uma seção concisa de poucas páginas. Devido às mensagens que têm que transmitir e ao espaço limitado permitido, as introduções são desafiadoras de escrever e entender.
Como os problemas diferem nos estudos qualitativos, quantitativos e de métodos mistos, o tipo de problema apresentado em uma introdução vai variar dependendo do método.
Para Morse, 1991, p. 120 citado por Creswell (2010), as características de um problema de pesquisa qualitativa são:  i) o conceito é “imaturo” devido à evidente falta de teoria e pesquisa prévia; ii) uma noção de que a teoria disponível pode ser imprecisa, imprópria, incorreta ou tendenciosa; iii) existe necessidade de explorar e descrever os fenômenos e desenvolver teorias; ou iv) a natureza do fenômeno pode não ser apropriada para medidas quantitativas.
Assim, em alguns estudos qualitativos, a abordagem da introdução pode ser menos indutiva, embora ainda baseada na perspectiva dos participantes, como a maioria dos estudos qualitativos. Além disso, introduções qualitativas podem começar com uma declaração pessoal de experiências do autor, como aquelas encontradas nos estudos fenomenológicos, descrito por Moustakas, 1994 citado por Creswell (2010). Elas também podem ser escritas na primeira pessoa, de um ponto de vista pessoal, no qual o pesquisador posiciona-se na narrativa.
Nas introduções quantitativas, observa-se menos variação. Em um projeto quantitativo, o problema é melhor trabalhado ao entender quais fatores ou variáveis influenciam um resultado.
Além disso, nas introduções quantitativas, os pesquisadores, algumas vezes, propõem uma teoria para testar e incorporam revisões substanciais da literatura para identificar questões de pesquisa que precisam ser respondidas. A redação de uma introdução quantitativa pode ser feita de um ponto de vista impessoal e no tempo passado para garantir “objetividade” à linguagem da pesquisa.
Um estudo de métodos mistos pode empregar tanto a técnica qualitativa como a quantitativa (ou alguma combinação das duas) para redigir a introdução. Por exemplo, em um problema de pesquisa, de métodos mistos, pode ter um que exista tanto a necessidade de entender a relação entre as variáveis em uma situação quanto a de explorar o tópico com mais profundidade.
O modelo de deficiências é um modelo geral para redigir uma introdução sólida para uma proposta ou para um estudo de pesquisa. É uma técnica popular usada em ciências sociais e, uma vez que sua estrutura seja elucidada, o leitor vai identifica-la com facilidade em muitos estudos acadêmicos. Ela consiste de cinco partes: i) o problema de pesquisa; ii) estudos que abordaram o problema; iii) deficiências nos estudos; iv) a importância do estudo para um publico; v) a declaração de objetivo
Como exemplo, antes da revisão de cada componente, baseado em um estudo quantitativo devemos seguir o seguinte roteiro:
- Estabelecer um gancho narrativo
- Identificar o problema de pesquisa
- Mencionar estudos que abordaram o problema
- Observar a deficiências nos estudos
- Verificar a importância do estudo para um publico mencionado
- Identificar o objetivo do estudo

O problema de pesquisa no estudo

Quando os pesquisadores iniciam seus estudos, começam com um ou mais parágrafos que transmitem os problemas ou as questões de pesquisa específicos. Eles também apresentam, na primeira sentença, informações para despertar interesse no leitor. Nas frases que seguem à primeira, os autores identificam um problema de pesquisa distinto que precisa ser abordado. No caso proposto, o problema de partida será o seguinte:

“Quais estratégias utilizam os professores na escola com apenas um computador?

Caso consigamos atingir os dois objetivos iniciais (despertar interesse no estudo e transmitir um problema ou uma questão de pesquisa distinto), que efeito teria? Ela atrairia o leitor para continuar a leitura? Ela foi elaborada em um nível que permite a um vasto público entendê-la? Essas questões são importantes para frases de abertura chamadas “ganchos narrativos”.
Para aprender a escrever bons ganchos narrativos, é necessário estudar frases de abertura nos grandes periódicos de diferentes campos de estudo. Geralmente, os jornalistas dão bons exemplos em suas manchetes de artigos de periódicos e revistas. A frase inicial pode ser bem escrita, de forma que o leitor não seja levado a um emaranhado de pensamentos detalhados, mas gentilmente guiado para o tópico, deve ser genérico o suficiente para que o leitor entenda e possa relaciona-lo ao tópico.
Na pesquisa de ciência social aplicada, os problemas surgem a partir de questões, dificuldades e práticas correntes, devem ser significativos e estabelecem uma questão pratica ou preocupação que precisa ser tratada. Um problema de pesquisa é a questão que existe na literatura, em teoria ou prática, que resulta na necessidade do estudo. O problema de pesquisa em um estudo começa a tornar-se claro quando o pesquisador pergunta “Qual é a necessidade deste estudo?” ou “Que problema influenciou a necessidade de fazer este estudo?”.
Ao elaborar os parágrafos de abertura de uma proposta, tenha em mente estas diretrizes:
- Escreva uma frase de abertura que estimule o interesse do leitor e que também transmita uma questão com a qual o público geral possa se relacionar.
- Como regra geral, evite usar citações, especialmente as mais longas, na frase inicial. Citações dão margem a muitas possibilidades de interpretação, podendo criar inicios obscuros. Porém, como é evidente em alguns estudos qualitativos, as citações podem despertar o interesse do leitor.
- Mantenha-se longe de expressões idiomáticas ou frases banais (por exemplo, “O método de aula expositiva permanece como uma ‘vaca sagrada’ entre a maioria dos instrutores universitários”).
- Considere usar informação numérica para produzir impacto (por exemplo, “A cada ano cerca de 5 milhões de norte-americanos enfrentam a morte de um membro imediato da família”).
- Identifique claramente o problema de pesquisa (por exemplo, dilema, questão) que orienta o estudo. Os pesquisadores poderiam perguntar a si mesmos: “Há uma frase (ou frases) especifica através da qual transmitir o problema de pesquisa?”
- Indique por que o problema é importante, citando referencias que justifiquem a necessidade de estudar o problema.
- Assegure-se de que o problema de pesquisa seja estruturado de maneira consistente com a técnica de pesquisa no estudo (por exemplo, exploratória no estudo qualitativo, exame de relações ou previsoras no estudo quantitativo e qualquer uma das duas na investigação de métodos mistos).

Revisão de estudos que abordam o problema

Depois de estabelecer o problema de pesquisa nos parágrafos de abertura, devem ser justificadas a importância do problema de pesquisa ao rever estudos que já examinaram o problema. Deve-se estabelecer um ‘mapa de literatura’, apresentando as principais categorias, revisando um numero maior de estudos, possibilitando a apresentação de um quadro mais amplo da literatura. É na seção de “revisão de literatura”, que normalmente vem após a introdução em um estudo quantitativo (algumas vezes, em um estudo qualitativo ou em um estudo de metodos mistos), que encontramos revisões detalhadas de estudos.
O objetivo da revisão de estudos, a qual fora abordado o problema, é justificar a importancia do estudo e criar distinções entre os estudos passados e o estudo proposto. Os pesquisadores não querem conduzir um estudo que reproduza exatamente o que outra pessoa já estudou. Novos estudos precisam acrescentar algo á literatura ou ampliar ou retestar aquilo que outras pessoas já examinaram.
A questão sempre acaba sendo que tipo de literatura revisar, o melhor caminho seria revisar estudos de “pesquisa” nos quais os autores apresentam questões de pesquisa e reportem dados para responder essas questões. O ponto crucial é que a literatura forneça estudos sobre o problema de pesquisa que está sendo abordado na proposta. Em alguns estudos, limitadamente construidos ou em novos projetos exploratórios, que não exista nenhuma literatura para documentar o problema de pesquisa. Para refutar essa declaração, é necessario que se pense sobre a literatura como um triangulo invertido, sendo no apice do mesmo posicionado o estudo academico proposto. Esse estudo é limitado e focado (e pode não existir estudos sobre o assunto).  Ampliando a revisão da literatura para fora da base do triangulo, podemos encontrar literatura, embora ela possa estar apenas indiretamente relacionada ao estudo em questão. Essa literatura de base ampla é revista para moldar o problema dentro da literatura.
Para revisar a literatura relacionada ao problema de pesquisa para introdução de uma proposta, considere estas ideias:
- Refira-se à literatura sumarizando grupos de estudos e não a estudos individuais. O objetivo deve ser estabelecer áreas amplas de pesquisa neste ponto do estudo.
- Para reduzir a enfase nos estudos individuais, colque as referencias do texto no final do paragrafo ou no final de um ponto resumido sobre varios estudos.
- Reveja estudos de pesquisa que uaram tecnica quantitativa, qualitativa ou de métodos mistos.
- Dê preferencia a literatura recente para sumarizar (como aquelas publicadas nos ultimos dez anos), anão ser que exista um estudo mais antigo que tenha sido amplamente citado por outros.

Deficiências na literatura existente

Depois de apresentar o problema e rever a literatura sobre ele, o pesquisador identifica as deficiências encontradas nessa literatura, utilizando um modelo de deficiências para redigir uma introdução para um estudo. Logo ao identificar deficiências na literatura passada, o pesquisador deve seguir este roteiro:
- Citar várias deficiências, tornando o caso ainda mais forte para a elaboração de um estudo.
- Identificar especificamente as deficiências de outros estudos (por exemplo, falhas metodológicas, variáveis omitidas).
- Escrever sobre áreas omitidas em estudos passados, incluindo tópicos, tratamentos estatísticos especiais, implicações importantes, e assim por diante.
- Discutir como o estudo proposto vai resolver essas deficiências, dando uma contribuição única para a literatura acadêmica.
As deficiencias podem ser descritas usando uma serie de pragrafos curtos que identifiquem tres ou quatro falhas da pesquisa passada, ou concentrem-se em uma falha principal.

Importância de um estudo para o publico

Todos os bons escritores têm o publico em mente. Os autores precisam identificar os públicos que tendem a se beneficiar com o problema de pesquisa. Quanto mais públicos pedirem ser mencionados, maior a importância do estudo e maior a chance de que ele seja visto pelos leitores como um estudo de aplicação ampla.
Finalmente, boas introduções para estudos de pesquisa terminam com uma declaração do propósito ou objetivo do estudo.


Referências:

Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa métodos qualitativo, quantitativo e misto. In Projeto de pesquisa métodos qualitativo, quantitativo e misto. Artmed. (p.87 a 99).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O ENFOQUE QUANTITATIVO E QUALITATIVO DA INVESTIGAÇÃO

O ENFOQUE QUANTITATIVO E QUALITATIVO DA INVESTIGAÇÃO Reblogando do meu colega de mestrado- Fabrício Pereira Referência: Pereira, F. (2017, dezembro 06). Enfoque quantitativo e qualitativo. [Post em blog]. Disponível em   https://fabriciopereiraieul.wixsite.com/omeuapa/single-post/2017/12/06/Enfoque-quantitativo-e-qualitativo      Os paradigmas de investigação podem ser entendidos como o sistema de pressupostos e valores que norteiam a pesquisa e orientam o investigador para obtenção de “respostas” face ao “problema/questão” que se propôs investigar. Conforme Coutinho (2011, p. 22, citando Crotty, 1998) “os paradigmas são o referencial filosófico que informa a metodologia do investigador”.      Os termos “metodologia”, “métodos” e “técnicas” são utilizados muitas vezes por alguns autores como de se sinónimos se tratassem. No entanto, alguns autores (Kaplan, 1998; Deshaies, 1992; Bisquerra, 1989, apud Coutinho, 2011) consideram haver...

INSTRUMENTO DE REGULAÇÃO ÉTICO-DEONTOLÓGICA - CARTA ÉTICA

INSTRUMENTO DE REGULAÇÃO ÉTICO-DEONTOLÓGICA - CARTA ÉTICA Enquanto associação científica, técnica e profissional empenhada em promover e defender a qualidade da investigação, da publicação e do ensino , a Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE), adiante designada Sociedade , contempla entre os seus objetivos centrais a elaboração de um instrumento de regulação ético-deontológica e o acompanhamento da sua aplicação através de uma estrutura específica (cf. Estatutos da SPCE, 1990; revisão 2014). A Sociedade reconhece que os processos de construção científica adquirem contornos particulares no campo educacional, dando origem a leituras disciplinares e paradigmáticas forçosamente plurais e diversas. Mas a Sociedade reconhece igualmente que a afirmação de princípios de atuação comuns constitui condição necessária, ainda que não suficiente, para a valorização da pluralidade e diversidade constitutivas das Ciências da Educação. A emergência de uma identidade segunda é ess...

REFLEXÃO CRÍTICA

REFLEXÃO CRÍTICA REFLEXÃO CRITICA INDIVIDUAL DA UC METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO I (MI17/18) Ano letivo de 2017-2018 Prof. Fernando Albuquerque Costa  Esta breve reflexão procura traduzir, por meio de palavras a minha percepção sobre o caminho da aprendizagem percorrido na Unidade Curricular Metodologia da Investigação I. Relembrando, nosso percurso nessa UC teve inicio em 13/11/17, com o envio de um e-mail, na qual define a estratégia de trabalho, em que se pretende valorizar substancialmente o trabalho autónomo de cada um na construção do conhecimento sobre a temática da metodologia de investigação em educação, e que iria utilizar uma plataforma diferente da que estávamos utilizando, http://metinv.weebly.com/ . Neste mesmo documento nos informa sobre a sessão síncrona, do dia 16/11/17, na qual explanou como seria conduzida a referida UC. Esta nova experiência nos trouxe mais flexibilidade, pois além das sessões síncronas deveríamos desenvolver um ambiente pessoal de ...